Safra gera entre 15 a 20 empregos por propriedade – Jornal Folha do Sul
A colheita da safra 2019/2020 das videiras na Campanha já teve início e de acordo com três tradicionais produtores da região, neste ano, o calor e o tempo seco devem fazer com que a safra seja uma das melhores dos últimos anos em termos de quantidade e qualidade. Em levantamento feito pela reportagem do jornal Folha do Sul, constatou-se que nesta época, as propriedades onde são desenvolvidas as atividades de vitivinicultura contratam entre 15 a 20 trabalhadores, com oportunidades de poder participar de outras ações realizadas durante o ano.
A maioria dos vinhedos na Campanha deu início aos trabalhos ainda em janeiro, quando as variedades de uvas brancas e rosé, destinadas a vinhos e, especialmente, espumantes, têm início. Até fins de março, a colheita das variedades Cabernet Sauvignon e Merlot devem encerrar a safra, com bons resultados. De acordo com a engenheira agrônoma Gabriela Hermann Pötter, sócia-proprietária da Estância Guatambu, em Dom Pedrito, a expectativa para este ano é de que sejam processadas 120 toneladas das variedades Pinot Noir, Chardonnay, Gewürztraminer para espumantes, além das variedades Tannat, Sauvignon blanc, Merlot, Tempranilho e Cabernet Sauvignon. “Nesta safra, a maturação dos vinhedos foi mais tardia devido aos dias frios ocorridos em novembro e dezembro, por isso, foram cerca de 10 dias a mais que o usual para começarmos a colher. Contudo, a qualidade ficou muito apurada com os dias secos durante a fase de maturação dos frutos e estimamos uma boa safra até o fim de março”, ressaltou.
Conforme Vitor Nunes Filho, proprietário da Cara Negra, em Hulha Negra, a estimativa para este ano é de processar 50 toneladas das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, com índice de produtividade estimado em oito toneladas por hectare. “Começamos na última semana a colheita das uvas Chardonnay utilizadas para espumantes e uma característica que percebemos é a excelente qualidade conferida pelo alto teor de açúcar nos frutos. Isso quer dizer que em geral, de 20 a 21 graus Babo, que mede o teor de açúcar, considerado ideal para produção de vinhos e espumantes de qualidade”, destacou.
No interior de Candiota, o sócio-gerente da Batalha Vinhas e Vinhos, Giovâni Silveira Peres, frisou que a expectativa para este ano é de colher 45 toneladas, oito a mais que na safra 2018/2019. “Esperamos uma safra de excelente quantidade e qualidade em nosso vinhedo, que produz as variedades Chardonnay, Merlot e Cabernet Sauvignon”, relatou. Além de processar a uva cultivada nos parreirais no distrito do Seival, a Batalha também recebe as variedades Cabernet Franc, Pinot Noir e Tannat, de outras propriedades, com estimativa de processar 100 toneladas nesta safra. “Temos cerca de 30% de nossa produção já colhida e 10% comprada de outras propriedades da região”, acrescentou.
Oportunidades
Nos três casos apurados pela reportagem, os produtores utilizam a colheita manual e, em média, a cada safra, são contratados entre 10 a 15 trabalhadores temporários. “É um trabalho que exige vigor físico e habilidade para colher os frutos sem causar danos. Por isso, além do treinamento dado aos temporários, é preciso atenção e cuidado no manejo. Acrescento que utilizamos este tipo de mão de obra em outras épocas do ano, além da colheita”, explicou.
Para Gabriela, o diferencial para quem deseja trabalhar neste setor é a dedicação, disciplina e atenção ao serviço. “Nesta safra, contratamos 16 trabalhadoras temporárias, além de contarmos com o serviço de cinco funcionários fixos. Uma característica que observamos é que as mulheres são mais atenciosas para exercer esta atividade”, comentou. Nunes acrescentou, ao afirmar que a fase de colheita é o resultado de um ano inteiro de trabalho, o que explica o grau de exigência com o manejo e cuidado na hora de trabalhar nos parreirais: “Sem dúvida, é preciso comprometimento nesta fase”. A Cara Negra costuma contratar 10 a 12 trabalhadores temporários na época de safra.
2,4 D
Diferente de anos anterior, que após ser constatada a contaminação de vinhedos pelo agrotóxico conhecido como 2,4-D, utilizado na cultura da soja, desta vez, o índice de deriva foi menor, devido à suspensão da aplicação até 31 de dezembro, determinada pelo Estado. Segundo Peres, o debate resultou em conscientização e queda nas ocorrências de deriva – quando o herbicida é aplicado e fica suspenso no ar, podendo ser detectado a quilômetros de distância. “Destaco que, nesta safra, detectamos somente um caso de deriva em nossa propriedade, porém, sem os efeitos de perda de produção. Inclusive, as propriedades lindeiras produzem soja e não fizeram  aplicações do herbicida, o que prova que com boa vontade, a cultura da soja e vitivinicultura podem coexistir”, argumentou.
Nunes, que relatou perdas significativas na safra 2018/2019, disse que na prioridade Cara Negra não detectou presença do herbicida nos parreirais.
Por outro lado, Gabriela frisou que a produção da Guatambu poderia ser ainda maior, não fossem os efeitos nocivos da deriva do 2,4-D na região: “Se não tivéssemos sido afetados pelo 2,4-D, nossa estimativa era de que, neste ano, poderíamos alcançar a marca de 170 toneladas em nossos vinhedos”, sustentou.
Evento
Para marcar a colheita da safra 2019/2020, a Guatambu realiza no dia 22 de fevereiro, programação especial para turistas e apreciadores. O evento, denominado “Bloco da Vindima”, coincide com o carnaval e, de acordo com Gabriela, terá atividades de colheita no parreiral, piquenique com petiscos e degustação. “Planejamos este evento para quem não gosta muito de ir para a folia”, comentou.